Já contei essa história diversas vezes. De fato, sempre que conheço alguém com quem vale a pena conversar por mais do que um café, eu explico o porquê de ter começado minha jornada como nômade digital.
O Despertar de um Sentimento
Bom, tudo na verdade começou com o sentimento de solidão. Ou, pelo menos, uma certa ideia do que seria estar só. Em 2023, eu estava saindo com uma pessoa. Não era nada sério, mas era algo constante. Estivemos juntos e dormindo juntos por mais de 4 meses, coisa de nos ver 3 vezes na semana, às vezes mais. Quando a coisa esfriou e eu vi o inevitável fim, percebi que sentia algo, mas ainda não sabia dar nome para aquele sentimento.
Autoavaliador que sou, me tranquei em meu quarto por um fim de semana, tentando entender o que era aquilo. Percebi que não, não era a dor de um coração partido. Mas, se não, o que era? Eu definitivamente não me sentia bem. Após uma maratona de filmes melancólicos e provavelmente alguma saga adolescente, comecei a entender um pouco o sentimento.
A Solidão como Catalisador
Fazia muito, muito tempo que eu estava acostumado a estar com grandes grupos de amigos. Na universidade, estive sempre rodeado de pessoas. Na pandemia, estive confinado com amigos. Quando mudei para o Rio, também sempre acompanhado. Isso não significa que eu não estivesse mais acompanhado, mas tudo isso aconteceu justamente quando no meu grupo mais próximo, todos estavam em um relacionamento ou com alguma prioridade, tendo menos tempo. Isso não significava que não nos víamos — e eu não vivia sozinho — mas, ao perceber que não teria a pessoa que estava sendo a minha principal companhia, me senti — depois de muito tempo — sozinho.
É nesse momento de reflexão que as coisas começam a tomar forma. A questão é que eu não estava sozinho, mas me sentia sozinho. E, afinal, não estamos todos? Parece melancólico, mas de certa forma, estamos todos sozinhos, ou ao menos, todos nós necessitamos lidar com momentos de solidão e, principalmente, lidar com quem somos quando estamos a sós — e encontrar uma maneira de estarmos ok com esta sensação.
A Decisão de Ser Nômade Digital
E é aí, caro leitor, que eu tenho o meu maior insight: se a solidão faz parte da vida, se necessitamos estar bem sozinhos, já passava da hora de eu ter maior entendimento sobre quem sou eu quando não há nenhum conhecido por perto. O meu eu quando, inevitavelmente, tenho que lidar com as situações sozinho. E que maneira mais apropriada do que viajar sozinho?
Ser nômade digital era uma ideia antiga, mas que me parecia muito distante antes da pandemia, dada a impossibilidade de trabalhar remoto na maioria das empresas. Estando há tempos trabalhando online, me percebi em um raro momento em que sim, se eu quisesse sair sem destino, eu podia.
E é assim que minha jornada inicia. Talvez com um chute na bunda, uma autorreflexão e um imenso desejo de me provar. Rapidamente organizei o necessário para fazer acontecer, marquei minhas férias para iniciar a jornada com mais tempo e fui para o meu primeiro destino: Santiago de Chile.
Uma jornada que iniciou em abril de 2023 e que, ainda em agosto de 2025, segue acontecendo.